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Sobre correspondências e casinhas de beiral rendado

Percebo um movimento de retomada das newsletter que, assim como os blogs, pareciam esquecidas. Eu me cadastrei em várias, empolgada pela nostalgia da troca de correspondência e pelo prazer de receber na caixa de e-mail algo além de publicidade. 

Adoro ler meu nome, compro fácil essa estratégia para estabelecer proximidade com o leitor. Gosto de supor que, de fato, o texto foi endereçado unicamente a mim. Por um breve momento, vivo essa ilusão de intimidade gerada pela troca remetente-destinatário. 

Cada remetente tem um estilo muito próprio e uma temática específica.  No geral, são textos criativos, inspiradores e, algumas vezes, reconfortantes. Mais que dicas de filmes e séries, recortes de experiências e relatos do cotidiano, temos a oportunidade de apreciar notícias vindas de fora. A chance de apurar o nosso olhar a partir do olhar do outro a partir de uma voz que não chega abafada pelos ruídos das redes sociais. 

Quem viveu o período pré-internet sabe bem o quanto as trocas de cartas eram importantes. Até pensei em criar a minha própria correspondência eletrônica, mas, por hora, um espacinho no Lambrequim é suficiente para matar essa saudade.    

Sempre apreciei os Lambrequins, babadinhos delicados que adornavam as casinhas de madeira. Por mais simples que fosse a casa, ela tinha o seu bordado à mostra. Penso na dureza da vida naqueles tempos — chegar em um país   desconhecido e erguer uma casa do nada. Mesmo em meio a tanta dificuldade, imprimiam uma dose de delicadeza. Penso que o Lambrequim digital tem, em parte, esse mesmo caráter: trazer uma dose de leveza. Um respiro de arte e cultura em meio ao caos.  

A artesania do bordado em madeira lembra o ofício cuidadoso dos escritores ao trabalhar o texto. Um manejo habilidoso da linguagem que permite moldar palavras e construir frases perfeitas — frases que acabam compartilhadas na internet ou estampando camisetas. 

O trabalho delicado dos Lambrequins evoca um olhar mais atento aos detalhes. O encantamento pelas miudezas de que nos fala o poeta Manoel de Barros — aquele que tão bem via poesia nas coisas pequenas e nos inutensílios.

* essa coluna foi escrita pela nossa colaboradora Patricia Dias


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