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Mylle Pampuch e Cássio Menin na 43ª Feira do livro e semana literária SESC

A cena do livro é feita de relações humanas

Participar de feiras nos proporciona momentos intensos, caóticos, imprevisíveis e inestimáveis. Se repetimos, ano após ano, o ato de expor nossos livros e ocupar os espaços, não é apenas porque gostamos: é porque estamos buscando, assim como tantas outras pessoas, formas de criar um ecossistema sustentável para que possamos continuar nosso trabalho como autores e pesquisadores.

O cansaço e a correria algumas vezes nos impedem de ver o quanto evoluímos nessa jornada e quanto ainda temos para explorar. As expectativas do que poderia ser nos impedem de aproveitar o que está acontecendo. Vivemos todos um pouco assim: ansiosos ao invés de esperançados, invejosos ao invés de admirados.

É natural nos sentirmos dessa forma: o que nós, criativos, mais queremos, é ter nossos trabalhos olhados e reconhecidos, afinal. Com o tempo, deixamos de enxergar nosso próprio valor, e nos perdemos em um mar de tentativas e (aparentes) erros — até, enfim, desistirmos.

Para quem cria, sair do mundo introspectivo pode ser desafiador, mas é extremamente necessário. Por isso, expor livros e outros trabalhos criativos em feiras é não só um exercício de sociabilidade, como também uma forma de treino sobre como deixar a introspecção e as expectativas em casa para, então, aproveitar o momento presente.

Qualquer pessoa que já tenha levado à público um trabalho criativo conhece as dores e as delícias de se colocar em exposição e manter a pose mesmo quando as coisas não saem como o esperado. No entanto, a força que nos move para criar nossas obras é a mesma que nos faz idealizar as circunstâncias de sua existência no mundo.

Idealizar, é claro, não é ruim por si só — afinal é necessário projetar cenários na direção em que queremos chegar. O problema começa quando passamos a menosprezar qualquer resultado diferente do cenário idealizado. Esse menosprezo, quando repetido e internalizado, cria holofotes nos erros e desvaloriza as vitórias, por maiores e mais esperadas que sejam.

O fato é que (pasmem), além de só ser possível existir no meio criativo através da tentativa e do erro, as definições de tentativa e de erro podem variar de acordo com as expectativas de cada um. O que vivemos, então, é um eterno estado de produzir, avaliar e ajustar, no qual (é preciso admitir) nunca atingiremos a expectativa idealizada.

Manter as expectativas baixas, porém, não precisa ser a única opção. Almejar menos do que se quer pode soar como uma forma de desmotivação, até. A questão está em também enxergar as circunstâncias como elas são, e não só como gostaríamos que elas fossem. Em outras palavras: precisamos separar a existência criativa real da experiência criativa ideal.

A magia que sintoniza o trabalho criativo de dentro com o mundo especulativo de fora nem sempre é tão direta e objetiva como gostaríamos. A dedicação empregada muitas vezes não corresponde ao retorno esperado e a repetição de baixo ou nenhum retorno pode saturar até mesmo os mais dedicados.

A única solução, a mais saudável e segura, é manter os mundos separados. Entender e internalizar que a realização do trabalho criativo e introspectivo é independente da recepção do mundo. Só assim, longe das expectativas e pressões às quais somos lançados, é possível criar um espaço em que a realização da criatividade plena é possível.  


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