No dia 14 de abril de 2021, eu e o Menin começamos um novo projeto chamado Lambrequim. Há 159 semanas, nos lembramos do compromisso semanal de fazer chegar no seu e-mail uma nova edição da newsletter na quarta-feira, às 9h.
Como já falei em outras Cismas, o que impulsionou o início do Lambrequim foi a busca por uma alternativa para divulgar nossos projetos além das redes sociais e suas limitações de entrega, formato e espaço. Ou seja, estávamos em busca de liberdade, contato e registro — objetivos que foram todos atingidos.
No entanto, mais interessante do que pensar no que esperávamos, é falar sobre o inesperado.
Naquele tempo da pandemia
É lugar comum dizer que muita coisa mudou desde abril de 2021, já que todos vivemos uma situação de exceção chamada pandemia. Trabalhar em projetos online era meio que a única opção que havia, então não foi difícil começar e manter uma newsletter semanal — ao menos não até o final de 2022.
O cenário foi mudando em 2023, quando o mundo presencial voltou com força. Sem máscaras, restrições nem receios, como se a pandemia nunca tivesse existido.
Mesmo que o seu momento de retorno ao mundo presencial não coincida com o nosso, o ponto é que todos procuramos novas atividades online para fazer durante o isolamento — atividades que foram deixadas de lado quando retornamos ao mundo offline.
Olhando hoje, o Lambrequim começou como um projeto de pandemia: uma newsletter semanal com textos autorais que, muitas vezes, demanda tempo de pesquisa e reflexão.
Como todo mundo, o lugar em que estávamos em 2021 se dividia entre um monte de dúvidas e tentativas de sobrevivência. Mesmo assim, felizmente pudemos nos manter em casa, trabalhando em nossos projetos — e isso nos deu tempo para trabalhar novas ideias e com novas ferramentas.
Fizemos um clube de leituras distópicas, vários cursos online, editamos e publicamos e-books (nossos e de outras pessoas), produzimos vídeos e escrevemos muito. Tudo isso foi muito gratificante e nos ajudou a ter novas experiências na área da produção cultural.
Porém, todas essas experiências foram testes — testes dos quais nos orgulhamos, mas que em 2024 já não fazem mais sentido.
Testar. Escolher. Continuar.
Não é de hoje que me pergunto se devemos continuar o Lambrequim. A resposta curta (antes que alguém se assuste) é: sim. Isso porque o Lambrequim deixou de ser apenas uma forma de divulgação para se tornar um registro das nossas atividades e reflexões — um registro público e lido por várias pessoas, semana após semana.
Em outras palavras, o Lambrequim é um arquivo das nossas mudanças.
Projetos iniciados antes do Lambrequim, como a Oficina de Escrita ou o espaço físico da Têmpora Criativa, que eram prioridades e nos enchiam de questionamentos quando começamos o Lambrequim, hoje já não fazem mais sentido. Nós testamos, avaliamos o que queríamos manter e seguimos em frente.
Interessante pensar que, apesar do Lambrequim ter nascido para divulgar projetos que nem existem mais, no final das contas escrever uma newsletter semanal nos ajudou a avaliar quais projetos gostaríamos de continuar.
Mudamos (e está tudo bem)
Com o passar do tempo, tornamos o Lambrequim um espaço no qual poderíamos escrever sobre o que bem entendêssemos, sem tema nem área específica. Sem que percebêssemos, essa liberdade de escrever, toda semana, sobre o que quiséssemos e mandar para uma lista de pessoas interessadas em nos ler, foi um catalisador das nossas mudanças.
Tenho começado a perceber que uma das coisas mais sinceras que podemos fazer por nós mesmos é entender que nós mudamos. Talvez a gente se contradiga, talvez a gente se arrependa, mas nada muda o valor de sonhar, vivenciar e depois mudar de ideia. Nem sempre voltar atrás ou desistir demonstra inconsistência ou falta de caráter: por mais confusos que sejam os caminhos, só nos encontramos enquanto os percorremos.
Independente do tempo que você acompanha o nosso trabalho, nós queremos agradecer cada Lambrequim que você abriu e se envolveu lendo. Em uma época que a coisa mais fácil a fazer é mudar de aba, ter a certeza de que existem pessoas que lerão o que escrevemos nos deixa muito confortáveis e gratos. Enquanto tivermos fôlego, continuaremos testando todos os projetos que pudermos.