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Ada Macaggi, o ímpeto de uma voz efêmera

Quantas histórias cabem dentro de uma história? Escrever uma biografia, mesmo que mínima, é como montar um quebra-cabeça com centenas de peças perdidas. 

Nós encontramos algumas dessas peças e queremos compartilhá-las com vocês. Uma singela contribuição às poucas linhas já escritas dedicadas à vida e obra de Ada Macaggi Bruno Lobo, patrona da cadeira de n° 13 da Academia Feminina de Letras do Paraná. 

Ada Macaggi nasceu em Ponta do Caju, Paranaguá (PR), no dia 29 de maio de 1906. Desde os cinco anos demonstrava habilidades artísticas e, inicialmente, dedicou-se à música.

Foi dito que, em certa ocasião, ao executar peças ao piano em uma festa realizada no Colégio da Profª Ludovica Bório, em Paranaguá (PR), levou o público ao êxtase. Pianista, violonista e cantora. 

Após a conclusão da escola primária, mudou-se para Curitiba acompanhada de seu pai, Narcizo Macaggi, dono da empresa funerária “A Grinalda”; sua mãe, Maria Paiva Macaggi, que também foi poetisa e musicista, e de sua irmã, Ludovica Macaggi. 

Encontramos registro de outros dois de seus irmãos que estiveram em Curitiba, mas em épocas distintas: Maria Macaggi, conhecida à época como Nené e Italo Macaggi, que foi militar. 

Assim como ocorrera em sua terra natal, na capital Ada realizava recitais de piano, violão, canto, além de declamações de poemas — apresentações estas que chamavam a atenção para uma jovem que subia ao palco para cantar árias consagradas e modinhas ao violão.  

 Foto publicada no jornal Correio do Paraná em 1932
Nos boletins escolares publicados nos jornais da época, é possível notar que Ada Macaggi era uma aluna dedicada, estava sempre entre as primeiras da classe, inclusive com algumas menções honrosas às suas notas.  

Em 1924, concluiu o curso de magistério na Escola Normal Secundária de Curitiba e, após receber a nomeação do governador, retornou para Paranaguá, onde atuou como professora. Circulou também por outras cidades, como Jacarezinho (PR), Antonina (PR), Ponta Grossa (PR) e Florianópolis (SC), muito provavelmente para realizar apresentações musicais e saraus literários.

Ada Macaggi já tinha reconhecimento público como musicista e já chamava a atenção com seus textos. Isso fica ainda mais notório quando o jornal Commercio do Paraná (1922-1925) começa a publicar a coluna intitulada Enquete, que tinha por objetivo aproximar o público de personalidades representativas da literatura paranaense. No dia 26 de abril de 1925 são publicadas as respostas da srta. Ada. Jornal Commercio do Paraná (1922-1925), p.6.
Quando o cenário artístico curitibano se agitou na noite de 15 de outubro de 1926, após um discurso proferido por Jurandir Manfredini, intitulado “Renovação ou Morte”, Ada esteve ao lado dos defensores do novo movimento artístico que despontava. O citado discurso tinha como tese a exaltação do movimento que conhecemos como Modernismo. 

Embora estivesse ao lado dos artistas que buscavam uma renovação, sua obra exprime por vezes os ideais do Romantismo e do Simbolismo.

De musicista para escritora

Seu primeiro livro, Vozes Efêmeras, foi publicado em 1927, sendo muito aclamado pela crítica. Consta que a obra já estaria pronta desde seus 14 anos de idade, fato que pode bem ser verdade, pois encontramos comentários, publicados ainda em 1925, sobre o futuro lançamento da publicação.  

Na década 1930, Ada Macaggi muda-se para a capital do país, um Rio de Janeiro que efervescia culturalmente e que ampliava as oportunidades artísticas. Foi nesta cidade que conheceu o médico João Bruno Lobo, professor da Faculdade Nacional de Medicina e presidente da Sociedade Brasileira de Hidrologia e Climatologia. Ada Macaggi e João Lobo casaram-se e tiveram uma filha, Ana Maria (Macaggi Lobo?).

Em 1933, uma segunda publicação, desta vez, um livro de contos e novelas com o nome de Taça, obra que igualmente foi aclamada pela crítica e recebeu menção honrosa da Academia Brasileira de Letras no mesmo ano. 

Ada Macaggi passou a contribuir cada vez mais com diversos periódicos e jornais do Paraná e Rio de Janeiro, o que possibilitou que passasse a viver de sua própria arte.

Em algumas ocasiões, Ada assinou com o pseudônimo Naipir da Mata, utilizando-o para tecer comentários críticos de forma direta.

Talvez por influência do marido, prestou concurso para a Cadeira de Puericultura da Faculdade de Medicina, onde foi aprovada em primeiro lugar. Entretanto, após assumir o cargo, João Lobo foi designado por Fernando Costa, então Ministro da Agricultura, para realizar uma viagem à Europa, onde realizou conferências na Sorbonne e no Hospital de La Pitlé e estudou as principais estâncias hidro-minerais da Europa.   

De 1937 até aproximadamente janeiro de 1939, Ada organizou uma série de eventos que tinham por objetivo divulgar o lançamento do seu novo livro, que acabou por ser postergado devido à viagem à Europa. 

Em tom de despedida, a Associação dos Artistas Brasileiros realizou um evento promovido pela revista Walkyrias em homenagem à escritora. Ada, que embarcaria no navio Asturias no dia 24 de janeiro de 1939, teve que retornar ao Brasil em menos de seis meses, devido ao clima tenso e a iminência da guerra. Assim, no dia 9 de julho de 1939, o casal aportou na baía de Guanabara, a bordo do navio Alcantara. 

No ano de 1941, lançou sua obra mais conhecida, Ímpeto. O livro de poemas, que também recebeu menções da Academia de Letras, contém ilustrações da modernista Anita Malfatti.

Até onde pudemos levantar, Ada continuou a realizar apresentações musicais e literárias, até que um derrame cerebral a impediu de tocar. 

No ano de 1946, ao lado de outras mulheres, redigiu uma carta dirigida ao presidente do Paraguai, General Morinigo, solicitando a anistia de presos políticos daquele país, que era uma reivindicação antiga das mulheres paraguaias. 

Em 11 de novembro de 1947, na cidade do Rio de Janeiro, Ada Macaggi estava assistindo a apresentação da cantora Edmée Brandi, quando teve de ser retirada às pressas do local. Por volta das 6h da manhã do dia seguinte, Ada veio a falecer. 


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