Lambrequim logo newsletter

a newsletter de cultura e tecnologia da Têmpora Criativa

As Quatro Estações, de Vivaldi, em tempos de aquecimento global

Quando em 1723, il prete rosso Antonio Vivaldi compôs os quatro concertos para violino e orquestra conhecido como As Quatro Estações, estava evidente a sua ideia de registar em forma de música o clima de sua época. 

Os sonetos que acompanham a partitura descrevem isso de maneira poética, quando pequenos escritos em passagens e trechos da obra detalham mais precisamente o que deve ser transmitido. 

No primeiro movimento (Allegro) do Concerto Nº. 1 “La primavera”, são os trovões que anunciam um temporal, que logo irá passar. 

Já no primeiro movimento (Allegro non molto) do Concerto Nº. 2 “L’estate”, você pode ouvir perfeitamente o Vento Borea no violino solo. Ventos nos violinos, Ventos impetuosos nas violas e Ventos diversos nos Baixos. 

Mais exemplos? No terceiro movimento do Concerto Nº. 3 em Fá Maior, “L’autunno”, caçadores estão com seus cães e espingardas e encontram A fera que foge. 

Por fim, chega “L’inverno”, Concerto Nº. 4, aqui no segundo movimento (Largo) é A Chuva, que chega suavemente

Estes são apenas alguns exemplos; em toda a obra você encontra esse tipo de descrição. Passados séculos desde que a obra foi escrita, nosso clima mudou. A cada dia mais evidente, as transformações climáticas irão definir nosso futuro no planeta Terra. 

Foi pensando nisso, e de como podemos descrever musicalmente as mudanças climáticas previstas para os próximos 30 anos que uma série de orquestras, compositores, cientistas do clima e da computação criaram uma recomposição de As Quatro Estações

A obra de Vivaldi foi refeita em várias cidades do mundo; e em cada uma delas uma versão diferente da obra é apresentada. É uma espécie de Tema e Variações, uma técnica composicional muito utilizada pelos grandes compositores ao longo da história da música. 

Em todas as variações, as mudanças são evidenciadas de forma a nos atentar para as mudanças previstas na precipitação, na biodiversidade e nos eventos climáticos extremos em 2050 — tudo isso, baseado nos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, debatido a poucos dias em Glasgow, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática. 

Algumas variações são praticamente irreconhecíveis, como toda e qualquer boa Variação. Porém, não é nada agradável quando levamos em consideração que estamos falando do nosso futuro. 

A Orquestra Sinfônica de Sydney descreve o verão como um “sonho cheio de ansiedade em uma época em que incêndios florestais, insegurança alimentar e outros desastres se tornarão cada vez mais comuns”. Já a peça criada para Xangai, não tem música escrita, pois a previsão é que a cidade estará submersa em 2050.

Bom, agora que você já tem uma ideia do que vem pela frente, que tal ouvir as obras através desse mapa interativo.


Publicado

em

por