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de publicar: vontade genuína

tem muita coisa boa e linda na internet e tá todo mundo querendo morder um pedaço e te pergunto será que o pedaço é tão gostoso assim será que vale a pena alimentar a víbora será que vale a pena esgarçar o tempo pra fazer parte do clubinho do não ser esquecido

tô mais praquela gente que gasta os dias lendo poesia na beira do mar mais praquela gente que vive com a cara no livro e que me leia quem quer me gastei

é verdade

em tentativas de hittar conteudinhos em redes sociais imagenzinhas cheias de florzinhas corzinhas frufruzinhos pra agradar o deus algoritmo só não me gasto de falar sobre isso porque ainda incomoda pensar que tá todo mundo refém dessa vibe se devorando pra ver quem é mais cult mais amado mais seguido mais li(n)do mais vendido OLHA EU OLHA EU

não se esqueçam de mim

nada contra querer aparecer faz parte de escrever e publicar e ser artista e coisa e tal mas pergunto o quanto disso é verdadeiro pergunto o quanto é fruto da

vontade genuína de publicar

se você for atrás de técnicas de marketing conteúdo e coisa e tal vai ver aquelas dicas milagrosas sobre como ser famoso em sei lá quantos dias diquinhas milagrosas sobre como ser lido e amado por um bando de pessoas desconhecidas para que elas comprem seu livro e (mais uma vez) nada contra querer ser amado e seguido e vender livros Mas MAs MAS é a essência da coisa

é a essência da coisa que incomoda 

tem um limite entre forçar a barra e mostrar a que veio tem um limite entre enfiar conteúdos goela abaixo e apresentar um experimento tem um limite entre embalar só pra chamar a atenção e simplesmente

postar

mas postar por postar é como conversar com o vento por isso a gente se obriga a embalar direitinho pra parecer que é algo mais ainda mais quando queremos viver de literatura nesse mundo barulhento mas vá lá tem que ter um limite entre ser best e ser seller tem que ter um limite entre ser

e não ser (eis)

a questão deveria ser de escolha de valor de será que estou confortável com isso mas não é porque no fundo no fundo não há balança que segure o querer criar um nome de autor e o se abster das redes sociais (ao menos não se você for millennial ou mais jovem) como se gerar conteúdo fosse a única forma de ser reconhecido no mar de times e lines em que todo mundo enfia o dedo como se o tempo fosse linha reta como se o tempo existisse como se fizesse 

alguma diferença

(não faz — e escrever isso aqui faz?)

uma invocação:

a partir de hoje publicar apenas movida pela vontade genuína porque a vontade genuína de publicar essa sim não encontra barreiras e como é bom publicar movida por essa vontade olhar uma crônica um ensaio uma tirinha um poema e se dizer é isso que eu quero dizer para as pessoas hoje sem se preocupar com alcances impactos leituras estatísticas resultados vendas sem se preocupar com nada além de arrancar uma ideia do corpo e se dizer

é isso e apenas isso

sem planos nem marketings sem estratégias nem expectativas

encontrar-se numa linguagem afundar-se nela e segui-la

e então o veículo-meio cai por terra porque onde quer que a gente publique faz sentido porque o sentido foi deslocado de lugar ou melhor foi recolocado no lugar de onde nunca deveria 

ter saída.


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