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Georgina Mongruel, uma multiartista mulher na virada do século XX (parte 3)

Na semana passada, terminamos nossa coluna falando sobre a ausência de publicações sobre Georgina Mongruel no jornal “Diário da Tarde”, em um período de aproximadamente 10 anos. 

E aqui você deve estar pensando, tudo bem, em outros jornais existem publicações, certo? 

Mais ou menos. O que torna esse tipo de pesquisa difícil (e ao mesmo tempo instigante) é justamente a escassez de fontes para preencher as lacunas e, por conseguinte, montar nosso quebra-cabeças. 

As perguntas que sempre vêm à mente enquanto pesquisamos são as mais simples possíveis.

Por que o jornal simplesmente parou de publicar informações sobre ela? O que aconteceu com o marido dela que, desde sua chegada a Curitiba, não aparece em qualquer publicação dos jornais pesquisados? De onde veio o sobrenome Lemoine, que passa a integrar os nomes dos filhos de Georgina? 

Algumas destas perguntas estão, até então, sem respostas e possivelmente só poderão ser respondidas por algum descendente. Então, caso você conheça algum dos parentes de Georgina, mande uma cartinha para nós, para que possamos entrar em contato e conversar. Agradecemos desde já. 

Agora, vamos voltar a nossa pesquisa e o que conseguimos levantar até aqui. 

A estreita relação entre Georgina Mongruel e Dario Velloso 

Estamos nos primeiros anos do século XX. A atuação de Georgina na cidade é umas das coisas que mais chama a atenção. Da música à pintura e da literatura à educação, seu papel é, de certa forma, determinante na construção do cenário artístico-cultural que se desenvolvia na cidade. 

Essa informação fica evidente quando vemos que nomes da história do Paraná em conjunto com o de Georgina. O primeiro deles é Dario Vellozo

Fundador do centro esotérico chamado de “Loja Luz Invisível” (hoje Instituto Neo-Pitagórico), Dario Vellozo dispunha também de uma editora. E aqui entra outro ponto interessante. 

Desde o ano de 1903 (primeiro registro que encontramos), eram realizadas festas maçônicas na cidade. Uma delas era realizada pela loja “Fraternidade Paranaenses”, e sim, o nome de Georgina aparece como uma das participantes da cerimônia cantando o “hymno maçonico”. 

Uma outra hipótese que levantamos aqui para que Georgina tenha conseguido se estabelecer tão facilmente na cidade é o fato de ela ter contatos na França. Explicamos. 

Em 1899, Dario Vellozo publica a 1ª edição do seu livro “Templo Maçônico” e mantinha contato com os editores da revista “L’Initiation”, conseguindo assim o contato de um senhor chamado Dr. H. Girgois que era delegado geral na América do Sul do “Grupo Independente de Estudos Esotéricos de Paris”. 

É através de Girgois que Dario consegue os documentos necessários para criar o seu próprio grupo em Curitiba. Os documentos e estatutos do recém-criado grupo eram justamente os mesmos do grupo parisiense e nada melhor que uma pessoa fluente em francês para auxiliar nas leituras, iniciações e demais demandas. 

Portanto, segundo nossa hipótese, é bem possível que Georgina tenha ajudado mais do que se imagina na fundação do Instituto e que, de certa forma, a proximidade com os membros do grupo tenha aberto um leque de possibilidades de atuação para Georgina. 

Para você ter uma ideia, encontram-se registrados nas atas da “Loja Luz Invisivel” os nomes de: Emiliano Perneta, João Itiberê, Sebastião Paraná, Ermelino de Leão, Mario Tourinho, Jaime Reis, Silveira Netto, Nestor de Castro, Francisco Ribeiro, Júlio Perneta, Josephina Pereira Rocha, Augusto Stresser, Martha Silva Gomes, Florentina Vital Macedo e Noemia do Amaral Gutierrez. 

Dito isto, é possível constatar que a relação de Georgina e Dario é estreita. Conforme dito acima, Dario possuía uma editora. E em muitas das publicações encontradas encontram-se textos de Georgina. 

Uma dessas publicações era a revista “A Escola” que já foi abordada aqui no Lambrequim, outra é a “Myrto e Acacia” de 1919, que você pode ler neste link e em 1922 é publicado um livro chamado “A Theosophia e a Fraternidade” com um texto de Georgina intitulado “O ideal theosophico”. 

Para finalizar este trecho, é preciso dizer que o site do patrimônio belga no Brasil informa que Georgina foi presidente de honra do Instituto Neo-Pitagórico. 

Georgina Mongruel, uma escritora simbolista ao lado de Emiliano Perneta

A segunda personalidade que frequentemente aparece ao lado de Georgina nos noticiários é o nome de Emiliano Perneta

Nome diretamente ligado ao movimento do Simbolismo, Emiliano é uma das figuras centrais da literatura paranaense. Neste texto da revista Cândido da Biblioteca Pública do Paraná você pode ler mais sobre o movimento e seus personagens (o nome de Georgina não é citado). 

Embora o parênteses acima seja importante, é válido ressaltar que a pesquisa de Ivan Justen Valente, intitulada “Emiliano Perneta: Vida e Poesia de Província?”, apresenta o nome de Georgina como uma das autoras do movimento

Mais especificamente, o pesquisador escreve que “…um dos poemas mais bem realizados de Emiliano, o soneto ‘Metamorfoses’, da parte Poesias diversas de Ilusão, é dedicado ‘À Mme. Georgine Mongruel’ ”.

Outro trecho da pesquisa de Ivan, que é de suma importância para nosso quebra-cabeças é a seguinte: 

“A dedicatória de ‘Metamorfoses’ a Madame Georgine Mongruel… é sinal da consciência de Emiliano quanto ao nível internacional que almejou atingir neste poema. Pode-se discutir o quanto essa própria consciência foi ao mesmo tempo benéfica e prejudicial à inspiração do poeta, e ao seu próprio juízo crítico, mas a qualidade do poema em si só é contestável com uma dose reforçada de má vontade crítica”.

Desta forma, é perceptível a que Georgina era “usada” e que, também, sabia usar de sua influência, em especial, na literatura. Lembre-se que ela era colaboradora de uma série de revistas nacionais e europeias. 

A relação entre os dois possivelmente teve início quando das participações de Georgina nas cerimônias do grupo maçônico de Dario Vellozo. E essa relação, a priori, é de admiração, tanto que, em uma publicação de 11 de abril de 1903 no jornal “Diário da Tarde”, Georgina publica uma carta para o autor de “Allegoria”. 

Já em 1909, no mesmo jornal encontramos outra publicação de Georgina. Desta vez, o título é “Emiliano Perneta”. 

No ano seguinte, conforme dissemos acima, é publicado o texto de Emiliano no livro “Ilusões”. Aqui cabe outro exercício livre de imaginação: teria Georgina sido a “musa” inspiradora de Emiliano? Este simplesmente buscava alcançar o “sucesso” através da influência de Georgina? 

São perguntas como estas que surgem durante esta pesquisa. Essa troca de gentilezas através de poemas e sonetos no mínimo instiga a busca por mais informações sobre a relação de ambos.

Após 59 anos da Emancipação Política do Paraná (19 de dezembro), ou seja, em 1912, no salão de honra do jornal Diário da Tarde, foi fundado o Centro de Letras do Paraná. Entre os sócios fundadores está Emiliano Perneta.

Neste artigo, a pesquisadora Lorena Zomer informa que “havia entre os fundadores cinco mulheres: Georgina Mongruel, Zaida Zardo, Myrian Catta Preto, Annete Macedo e Alda Silva”. 

Entretanto, em publicações da escritora Leonor Castellano (1899-1969) “não se reportou a elas, embora uma ao menos, Annete Macedo, foi reconhecida como uma grande intelectual e professora durante a sua vida”. 

Os nomes citados nos dois parágrafos acima merecem uma pesquisa à parte — quem sabe a faremos por aqui e publicamos. 

E para encerrar a coluna de hoje, deixamos apenas a seguinte informação. Em 19 de janeiro de 1921, Emiliano faleceu e, no ano seguinte, Georgina, com 61 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ). 

Na próxima e última parte de Georgina Mongruel, uma multiartista mulher na virada do século XX, falaremos mais especificamente sobre a obra literária de Georgina


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