por Patricia Dias
Comecei a compartilhar minhas leituras nas redes sociais em 2016, mas já exercia esse papel de “influenciadora literária” há muito tempo. Na escola, eu costumava ler e fazer resumo das leituras obrigatórias de amigas e dos irmãos.
Lembro bem quando li O Velho e o Mar por encomenda, com quatorze ou quinze anos — não recordo o pagamento, mas nunca esqueci o arrebatamento que senti. Naquelas páginas, vivi no corpo a aflição daquele embate. Torci pelo humano e também pelo selvagem. Encontrei dificuldade para expressar o quanto a narrativa era excepcional. Fiz o resumo e, entusiasmada, tentei convencer minha amiga a ler a obra. Não consegui convencê-la, mas a professora, ao menos, deu a nota máxima.
Ainda não reli esse livro, pois tenho receio que meu olhar de hoje estrague uma memória leitora tão preciosa. Não quero perder a sensação deliciosa de encontrar em um livro um mundo inteiramente novo. A experiência mágica de obter respostas para perguntas que não chegaram a ser formuladas.
Não recordo qual veio primeiro: o encontro com Machado ou com Hemingway, dois autores que marcaram minha adolescência. Dom Casmurro e O Velho e o Mar me mostraram que a leitura podia ser muito mais que um hábito, um passatempo ou uma obrigação escolar. Através dessas obras, fui tocada pela potência transformadora da linguagem. Compreendi que era possível entrar em um livro e sair transformada.
Quando falo em eventos, sobre livros ou sobre a importância da leitura, não tento convencer o público com teoria; prefiro compartilhar minhas memórias de leitora comum. Relato os momentos em que me senti amparada, os trechos que me emocionaram, os livros em que eu gostaria de morar. E procuro escutar as memórias alheias, em geral, pois são histórias de vida permeadas por narrativas que nem sempre estão nos livros. Ler o mundo e sobretudo, ler as pessoas, é a habilidade mais preciosa.