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São Theodoro, o teatro que já foi prisão (e deu origem ao Teatro Guaíra)

Os primeiros teatros em Curitiba pertenciam às famílias luso-brasileiras e alemãs e datam da segunda metade do século XIX. 

Estes palcos recebiam as diversas companhias teatrais que realizavam suas temporadas e por vezes, apresentações únicas, de passagem, a caminho de outras localidades na América Latina. 

Embora os relatórios dos Presidentes de Província desde o ano de 1862 apontassem para a necessidade da criação de um teatro na cidade, foi só no ano de 1870 que a ideia começa a sair do papel. 

Na data aproximada, um grupo de entusiastas formado por Ermelino de Leão, João José Pedrosa, entre outros, reivindicavam a construção de um teatro público e em 30 de março do ano seguinte, através de uma lei provincial, é concedido o terreno e o porte financeiro destinado à construção de um teatro.

Entretanto, somente 4 anos depois, em 1875, foi dado início à construção do teatro, sob a responsabilidade da Sociedade Dramática União Coritiba [sic] que, por sua vez, pouco tempo depois já não dispunha dos recursos necessários para a construção.  

O jornal “Almanach do Paraná (1896-1929)”, em sua terceira edição, datada de 1900, destaca que a Sociedade Dramática União Coritibana, após uma reunião em agosto de 1880, resolveu ceder à província o teatro da rua da Assembleia (atual Dr. Muricy), e que viria a receber a denominação de São Theodoro, em homenagem à memória do fundador da cidade Theodoro Ebano Pereira. 

A construção do teatro se arrastou por 10 anos, devido aos percalços financeiros. Os gastos contínuos com a obra não agradavam nenhum um pouco algumas parcelas da população.  

Com a província assumindo a obra, foram convocados para a construção o engenheiro André Braz Chalreo Júnior e o arquiteto José Moreira de Freitas, já a decoração foi feita pelo pintor Antonio Mariano de Lima

Em 1884 finalmente ocorreu a inauguração. Segundo o dicionário histórico-biográfico do Paraná de 1991, a primeira apresentação foi de uma orquestra sob a regência de Bento Antônio de Menezes. 

Já o jornal “Dezenove de Dezembro (1854-1890)” destacava:

Durante nove anos, o teatro recebeu diversas apresentações musicais e teatrais, tanto nacionais quanto estrangeiras, e foi palco de espetáculos variados com atrações artísticas com o que estava em voga à época.

Em 1893, a Revolução Federalista traz consigo o medo, a morte e a destruição. Curitiba é tomada pelos Maragatos, que avançavam em direção ao Rio de Janeiro, mas no último ponto de resistência a cidade da Lapa (PR), as tropas Republicanas os contiveram, episódio este que ficou conhecido como o Cerco da Lapa

Foi quando o São Theodoro deixou de receber arte para virar uma prisão política e cenário de execução sumária. De lá partiram o Barão do Cerro Azul e seus companheiros, (considerados traidores à época) rumo ao quilômetro 65 da estrada de ferro Curitiba-Paranaguá, onde seriam assassinados. 

A Revolução Federalista trouxe degradação e abandono ao teatro, agora com a imagem maculada e marcada pelo derramamento de sangue. 

O teatro caiu em desgosto pela população, o que levou a sua reforma, sendo rebatizado com o nome Teatro Guayra, sugestão de Romário Martins e Sebastião Paraná. Infelizmente, o Theatro Guayra funcionou apenas até 1935, ano em que foi demolido. Embora a história do Teatro São Theodoro tenha sido manchada, ela remonta às manifestações artísticas da Curitiba do final do século XIX. Mesmo em sua breve existência, auxiliou na formação de uma plateia que ansiava por cultura e além de, é claro, ter sido o teatro propulsor de outros que viriam posteriormente.


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