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Neom, a cidade futurística de trilhões de problemas 

Há 6 anos, o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, anunciou Neom, uma utopia no deserto de US$ 1 trilhão como forma de reduzir a dependência do país e diversificar sua economia. 

Porém, os novos detalhes revelados recentemente, preocupam especialistas em privacidade e direitos humanos, isso sem mencionar os céticos que duvidam que o projeto avance. 

O que é Neom? 

Neom é um projeto ambicioso de uma cidade e zona econômica transnacional planejada, que será construída em uma vasta área de aproximadamente 27 mil quilômetros quadrados na região fronteiriça entre Arábia Saudita, Jordânia e Egito. 

O objetivo dos promotores desse empreendimento, que terá uma área comparável à da Bélgica, é estabelecer Neom como um centro global de negócios estrategicamente localizado em uma das áreas de maior movimentação econômica do mundo, o Mar Vermelho, onde ocorre quase um décimo do comércio global. Para conectar os três países envolvidos, está prevista a construção de uma ponte através do golfo de Acaba.

Neom funcionará de forma independente do governo conservador da Arábia Saudita, contando com sua própria estrutura de impostos, leis trabalhistas e sistema judicial. O projeto inclui a divisão da cidade em dez regiões distintas, sendo quatro delas já conhecidas:

Sindalah: Uma ilha que abrigará hotéis e marinas de iates, com inauguração prevista para 2024. Os turistas poderão desfrutar de mergulhos nos recifes e naufrágios do Mar Vermelho.

The Line: Um complexo urbano contínuo com cerca de 209 quilômetros de extensão, projetado para abrigar aproximadamente 9 milhões de pessoas. Essa cidade inteligente será livre de carros, promovendo um estilo de vida sustentável e conectado.

Oxágono: Um complexo industrial flutuante com formato octogonal, destinado à pesquisa e fabricação.

Trojena: Uma área que sediará os Jogos Asiáticos de Inverno em 2029, oferecendo um destino de esqui ao ar livre.

Uma imagem conceitual da ilha de Sindalah, um resort de iates planejado para fazer parte do projeto Neom. Fonte: NEOM

Tudo lindo e maravilhoso, só que não!

Segundo uma reportagem da Insider, em maio, a Organização das Nações Unidas (ONU) relatou que a Arábia Saudita condenou à pena de morte três homens pertencentes à tribo Howeitat, que historicamente vive em terras destinadas ao desenvolvimento de Neom. Segundo a ONU, a causa dessa condenação foi a recusa dos homens em serem despejados da área.

Os especialistas da ONU afirmaram que, embora os homens tenham sido acusados de terrorismo, na verdade foram presos por resistirem aos despejos forçados em prol do projeto Neom e da construção de uma cidade linear chamada The Line, que teria cerca de 170 km de extensão.

A ONU alega que as autoridades sauditas expulsaram a tribo de três aldeias na região e, apesar das promessas feitas, não ofereceram uma compensação adequada aos afetados. Além disso, em maio, foi relatado que um homem que resistiu ao despejo foi morto pelas forças especiais sauditas.

Esses acontecimentos geraram preocupações e críticas da comunidade internacional em relação ao tratamento das comunidades locais afetadas pelo projeto Neom e levantaram questões sobre os direitos humanos e a proteção dos direitos das pessoas envolvidas nessas questões de desenvolvimento.

Ainda segundo a Insider, acordos com a China levantam indícios de planos para a implementação de um sistema abrangente de vigilância dos residentes de Neom. O príncipe herdeiro tem se apresentado como um reformador, demonstrando interesse em abrir o reino para investimentos e liberalizar a sociedade ultraconservadora.

No entanto, críticos argumentam que por trás dessa imagem de reformista existe um traço autoritário brutal. Eles apontam para a perseguição de críticos pelo príncipe herdeiro, a guerra conduzida no Iêmen e o assassinato do dissidente Jamal Khashoggi em 2018 (o qual o príncipe herdeiro nega qualquer envolvimento).

Os  EUA acusam o governo saudita do assassinato de Jamal Khashoggi. Fonte: Yasin Akgul/Getty Images

Ativistas estão alarmados com os recentes acordos entre a Arábia Saudita e gigantes tecnológicos chineses, que, segundo eles, podem permitir que os serviços de segurança sauditas coletem dados dos residentes e realizem vigilância sobre eles.

Essas preocupações ressaltam a importância da proteção da privacidade e dos direitos individuais em um contexto de desenvolvimento de projetos como o Neom.

Caso você tenha esquecido: Após a visita de uma comitiva à Arábia Saudita em outubro de 2021, Jair Bolsonaro foi envolvido em uma controvérsia. De acordo com informações, houve uma tentativa ilegal de trazer ao Brasil diversas joias avaliadas em mais de R$ 16 milhões. Essas joias seriam um presente do governo saudita para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.


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