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oficinas literárias: para além do escreva-edite-publique

1. 

Nenhum equilíbrio. Nenhuma crença. Nenhum manual. Toda gente que escreve naquela mesma toada de (re)descobrir a roda, de (re)inventar a forma, de (re)elaborar a fórmula. Toda gente toda naquela mesma igualdade de ser um pouco diferente, chegando a lugar algum.

2. 

Alguma gente se reúne em algum canto de alguma cidade (fria). Ao vivo, em forma de planos ou de corpos presentes. Um fala mais que outros, condutor(a) do barco. As semanas passam, textos pululam. Olhos seguidos de olhos sob a carne fresca, refratando a mensagem feito ensopado. Coletivo de evolução = oficinas literárias.

3.

Se você acha que, porém não sabe se, repeteco-retranca, ampola com ar de cidade grande. Agora, se você quer ser e está disposto a (se) mover, portas abertas para o processo — criativo, instintivo, progressivo. Agrupamentos de gente que escreve são, da primeira à última instâncias, locais para se estar se você não quiser ficar falando sozinho.

4.

Acolhida. Compreensão. Identificação. Ali, ninguém é mais louco que, porque estão todos em. Espaço de criar raízes aéreas, se fortalecer. O mundo de fora será sempre o mundo de fora, especialista em doutrinar raízes. Por isso é ali, no espaço com toda gente que escreve, a fonte da seiva, o alimento da insistência. Acima de tudo, garantia de não sonhar sozinho.

5.

Fatos-questionamentos. Os livros estão aí, e nos ensinam. Grandes escritores e grandes escritoras não precisavam disso. Já sei o bastante, sou bom o bastante. Nesse tempo eu poderia estar escrevendo.

6.

Escrever já é um troço que cansa. Cansa como estar vivo + cansa como viver sozinho. Escrever sem dividir é escrita vazia. Escrita é transmissão, porque se não fosse, morreria ainda pensamento. Escrever é divisão, e quando a gente divide acompanhado é sempre mais gostosinho.

7.

(Pré)definição de ordem: escrever > mostrar para o seu grupo favorito > dar um tempo > editar > dar um tempo > (talvez) mostrar de novo > avaliar-editar > publicar. 

8. 

Toda gente que escreve precisa segurar a ansiedade. O uso do frêmito deve ficar restrito à anotação de ideias. Ter um grupo seleto com quem dividir desanuvia a pressa.

9. 

Fazer parte de um grupo de gente que escreve é como finalmente se encontrar com muitas pessoas que falam a mesma língua. Se o grupo estiver em sintonia, o barco voa e quem está na embarcação voa junto. Tem horas que tudo o que a gente, que escreve, precisa para evoluir é de um ambiente seguro para mostrar o que cria.

10.

Impessoalidade. Tem diferença entre publicar na internet, para “todo mundo”, e ter um grupo com quem partilhar antes. Nada de grupo e muito de internet pode dar pistas falsas sobre nossa produção: pouco buzz = fracasso anunciado; muito buzz = sucesso garantido. Nenhuma das alternativas anteriores é absoluta.

11.

Em defesa dos agrupamentos de gente que escreve, por vezes marginalizados pelos escreventes & afins, há de se convir que neles ninguém compete — afinal, dê o mesmo tema a vinte escritores e teremos vinte escritos diferentes.

12.

A única maneira de vencer as estratégias de divulgação que insistem em nos pasteurizar é se fortalecendo em grupos de gente que escreve e escrevendo como gente que vive em grupos. Autoria além-assinatura = autoria-colaboração + autoria-influência.


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