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medieval castle room with stone benches near window

Palácios mentais: desvendando a memória de Sherlock Holmes

Esse é o nome de um antigo projeto que, embora houvesse muita empolgação, durou menos de 2 meses. 

 — Haha, já fizemos muitas loucuras nessas redes! 

Enfim, sem entrar em mais detalhes, resolvemos resgatar a ideia trazendo-a aqui para o Lambrequim

— E sim, não seguirá nenhum padrão de publicação! (Grande novidade).

Para a estreia da nova coluna, que tal relembrar uma antiga técnica utilizada por Sherlock Holmes?

Palácios mentais: a memória de Sherlock Holmes

Sherlock é uma série de televisão britânica de drama policial, criada por Steven Moffat e Mark Gatiss, baseada nas histórias do detetive Sherlock Holmes escritas por Sir Arthur Conan Doyle. A produção é da BBC, e conta com uma adaptação livre que abandona o cenário original e contextualiza a investigação nos dias atuais. 

Na série, Sherlock Holmes (Benedict Cumberbatch), utiliza uma técnica de memorização que é chamada de mind palace ou memory palace (palácio mental ou palácio da memória). 

A técnica utilizada pela personagem não é um recurso ficcional ou inventado pela trama

O palácio da memória, também chamado método de loci (plural de locus, lugar em latim), é uma técnica mnemônica que depende de relações espaciais memorizadas para estabelecer, ordenar e relembrar conteúdo memorial. 

Ou seja, baseia-se em criar um lugar imaginário, que pode ser construído inspirado num lugar familiar (como a própria casa da pessoa), ou criar um lugar imaginário totalmente fictício, ou combinando ambas as coisas.

— Tá, mas o que é uma mnemônica mesmo? 

Fácil. É um conjunto de técnicas utilizadas para auxiliar o processo de memorização

De forma resumida, consiste na elaboração de suportes como os esquemas, gráficos, símbolos, palavras ou frases relacionadas com o assunto que se pretende memorizar.

Oradores gregos e romanos memorizavam longos discursos construindo seus palácios dentro de sua imaginação. Eles então colocariam estrategicamente cada palavra ou ideia que precisavam lembrar em um local específico dentro de seu palácio mental. Mais tarde, eles poderiam refazer mentalmente seus passos e recordar os detalhes quando precisassem deles.

A técnica mnemônica tem sua origem relacionada ao poeta grego Simônides, remontando ao ano 477 a.C. Frances Yates, autor do livro A arte da memória relata a história de Simônides: 

“Durante um banquete oferecido por um nobre da Tessália chamado Scopas, o poeta Simônides de Ceos entoou um poema lírico em honra de seu anfitrião, mas incluiu uma passagem em louvor a Castor e Pólux. De forma mesquinha, Scopas disse ao poeta que só pagaria a metade da soma combinada pelo panegírico e que ele cobrasse a diferença dos deuses gêmeos, a quem havia dedicado a metade do poema. Um pouco mais tarde, Simônides foi avisado de que dois jovens o aguardavam do lado de fora, para falar com ele. Retirouse do banquete mas não encontrou ninguém. Durante sua ausência, o teto do salão desabou, matando Scopas e todos os convidados sob os escombros; os corpos estavam tão deformados que os parentes que vieram reconhecê-los para cumprir os funerais não conseguiram identificá-los. Mas Simônides recordava-se dos lugares dos convidados à mesa e assim pôde indicar aos parentes quais eram os seus mortos. Castor e Pólux, os jovens invisíveis que haviam chamado Simônides, haviam pago generosamente sua parte do panegírico, tirando-o do banquete pouco antes do desabamento. E essa experiência sugeriu ao poeta os princípios da arte da memória, da qual se diz ser o inventor. Ao notar que fora devido a sua memória dos lugares onde os convidados se haviam sentado que pudera identificar os corpos, ele compreendeu que a disposição ordenada é essencial a uma boa memória.”

Ainda segundo Frances Yates, esse episódio fez com que lhe fosse atribuída a invenção da arte da memória: 

“Cícero enfatizava que a invenção da arte da memória por Simônides não radicava apenas na sua descoberta da importância da ordem sequencial para a memória, mas também na de que o sentido da visão é o mais forte de todos os sentidos”

E será que funciona? 

Um estudo realizado em 2017 contou com participantes (sem treinamento mnemônico), que tentavam memorizar 72 palavras aleatórias. Eles passaram por seis semanas de treinamento usando o método de loci e foram testados novamente após quatro meses. Surpreendentemente, os participantes conseguiram lembrar 62 das 72 palavras, em média. 

Usando exames de ressonância magnética, os pesquisadores puderam ver que o treinamento mnemônico provocava mudanças na rede do cérebro. Eles também viram diferenças discerníveis nos padrões de conectividade que não estavam presentes em participantes sem treinamento.

Caso seja do seu interesse, assista a este vídeo para saber como criar seu próprio palácio e desenvolver sua memória ao estilo de Sherlock Holmes.


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