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Vivendo e (des)aprendendo a jogar o jogo das redes sociais

1.

Minha opinião sobre as redes sociais não mudou: para mim, elas continuam sendo um lixo. Se colocarmos na balança, elas nos prejudicaram, como sociedade, mais do que nos ajudaram. Networking, oportunidades de vendas e espaço de divulgação não valem o imbróglio político em que nos metemos.

2.

Comecei uma Cisma (inacabada) detalhando minha trajetória nas redes sociais, um blá blá blá infinito. Depois que passei das 2 mil palavras e percebi que não havia chegado nem na metade, desisti. Estava escrevendo mais para mim do que para os outros.

3.

O negócio das redes sociais é o seguinte: elas são um reforço positivo para o que há de pior em nós. 

É importante ter consciência disso para saber onde nós estamos metendo a ponta dos dedos.

4.

Agora que é muito mais fácil de divulgar, ficou ainda mais fácil de esquecer com justificativa.

Faço uma aposta: você se lembra o que almoçou na quarta-feira passada? E com quem?

5. 

Coisas que aprendi no meu detox de redes sociais (de dezembro de 2021 a março de 2022):

  • Desinstale os aplicativos de redes sociais do seu celular (se puder);
  • Tire os atalhos para os apps das redes da sua tela inicial (se não puder desinstalá-los);
  • Siga o mínimo de pessoas possível (melhor deixar de seguir todo mundo);
  • Desative todas as notificações do seu celular (inclusive do e-mail e do whats);
  • Programe um Não Perturbe diário (que comece 2h antes de você dormir, no mínimo).

Feito isso, você terá um maravilhoso tempo livre só para você. Aprecie-o.

6.

Se você não quiser desativar todas as notificações do whatsapp (vai que alguém tem algo urgente-único-importante pra te dizer), uma dica: conversas arquivadas não geram notificações.

7.

Sua qualidade de vida renovada ou seu dinheiro de volta.

8.

Jogar o jogo das redes sociais é a atualização da falácia que “todos têm as mesmas ferramentas e as mesmas chances”. 

Pra jogar esse jogo você precisa ser cético a ponto de acreditar que não receberá nada em troca, porque se você ganhar o que espera cairá na armadilha da recompensa.

9.

Quando tudo é diversão, o cérebro vicia em dopamina e quer sempre mais. Diversão, distração e dopamina: é o que mais tem na internet. O problema é que dopamina não sacia — pelo contrário, chega um ponto que paramos de nos satisfazer. 

Em busca da homeostase, nosso corpo sem dopamina entra em colapso, e a dor que sentimos é proporcional à quantidade de dopamina de que precisávamos para satisfazê-lo.

Só passando pela dor da abstinência de dopamina é que conseguimos superar o vício e entrar novamente em equilíbrio.

10.

Se enxergar de fora. Ver nossas ideias se desintegrando, uma a uma, nas digitais alheias. Divulgações, conquistas, vitrines, curtidas, sonhos, comentários, parcerias, mensagens — o tempo escorrendo no mar de todo esse “conteúdo” que produzimos.

Cada um com seus motivos para publicar e promover, para falar e ser ouvido — e o eu, esse sacana, inflando no peito.

11.

Temos que encarar as redes sociais como os professores encaram os alunos nas salas de aula: se um em cada cem alunos for influenciado, o semestre estará ganho.

12.

No pós-detox, meu ódio pelas redes sociais transformou-se em descaso: já não faz diferença nenhuma, na minha vida prática, se elas existem ou não. Explorá-las de vez em quando foi a maneira que encontrei para exercitar a indiferença.

13.

Despida de idealismos e sabendo que jogo jogado é jogo perdido, por que não mostrar a cara e ver o que acontece? 


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