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5 perguntas essenciais para uma melhor convivência com a internet

Imagine que você está diante de uma bifurcação no seu caminho. Depois de experimentar várias possibilidades dentro da sua área de atuação, de colher frutos e vivenciar fracassos, você percebe que é hora de filtrar algumas escolhas para poder tirar o melhor proveito daquilo que se propôs a fazer.

Mas a questão é: como fazer isso? Diante das infinitas possibilidades que temos ao alcance de nossas mãos, graças à internet, como tomar essa decisão?

Já faz algum tempo que estamos falando sobre a importância do autoconhecimento e da tomada consciente de decisões. No entanto, se fosse essa a única questão, não estaríamos falando sobre isso. Se por um lado estamos em busca do melhor que podemos fazer dentro daquilo que planejamos para nós mesmos, por outro, fatores como dinheiro, repercussão e sobrevivência acabam nos desviando dessa busca.

O que vale mais para você quando pensa em um novo projeto artístico: produzir o que deseja e esperar ser encontrado ou buscar o que as pessoas querem para então começar produzir? Diante das variadas formas que a internet tem de nos viciar em dopamina, talvez o nosso desejo por reconhecimento tenha extrapolado os níveis saudáveis.

No entanto, se a questão fosse apenas a busca por reconhecimento — mesmo que desenfreada —, tudo seria mais simples. Porém, o que estamos vivendo é um assalto aos nossos desejos em prol de uma produção desenfreada de informações que nunca teremos capacidade nem tempo hábil para consumir — mesmo vivendo com a ilusão de que estamos todos bem-informados sobre o mundo, sobre as pessoas próximas a nós e sobre nós mesmos.

Pensando nisso, separamos alguns pontos para refletir sobre a busca da autenticidade — tanto para você quanto para os seus projetos artísticos.

Avalie com quanta informação você consegue lidar

A primeira pergunta que você precisa se fazer é: com quanta informação consigo lidar? Já estamos cansados de falar sobre a enxurrada de informações que circulam na época em que estamos vivendo — e que você não precisa estar o tempo todo disponível para consumi-la. 

Fazer escolhas conscientes sobre olhar ou não e-mails, redes sociais, sites de notícias, aplicativos de mensagens ou quaisquer outras fontes de informação é a melhor forma de criar espaço para você se concentrar no que quer trabalhar de verdade.

A concentração — e já falamos sobre isso aquié o caminho para a criatividade. Sem entrar no estado de fluxo, é possível que você não atinja a sua melhor forma e acabe se frustrando cada vez que for tentar escrever um texto, compor uma música, ler, estudar ou produzir o que quer que deseje.

Com o tempo, essa frustração, misturada com o excesso de informação com o qual você lida diariamente, pode causar crises de ansiedade, de depressão e até mesmo em episódios de burnout — sinais claros enviados pelo seu corpo de que é preciso desacelerar.

Avalie com quais informações você consegue lidar

Depois de pensar que você não precisa estar disponível para o mundo o tempo inteiro, é hora de avaliar com quais informações você quer ter contato. Perceba que usamos a palavra quer ao invés da palavra precisa. Nesse quesito, sua escolha será completamente pessoal e um tanto egoísta.

Já falamos sobre os defeitos e malefícios que as redes sociais causam tanto nos indivíduos quanto na sociedade. No entanto, muitas vezes aceitamos os malefícios provocados porque acreditamos que os benefícios podem ser maiores — exposição, possíveis clientes, contato com amigos e familiares etc.

Então, a verdadeira pergunta que cada um de nós precisa se fazer é: eu quero estar nesses espaços? 

(Faça uma pausa, se precisar, para refletir).

Se sua resposta foi sim, a próxima pergunta é: em quais desses espaços eu quero estar?

Por exemplo, você está no Instagram por que quer ou por que acredita que a maioria das pessoas está lá? Você posta no Twitter por que curte ou por que acha que é a única maneira viável de divulgar o seu trabalho? É desse tipo de escolha consciente que estou falando.

Depois de avaliar os espaços na internet que você quer chamar de seus, há ainda uma última e importante pergunta:

Eu estou disposto a lidar com a forma como o conteúdo é distribuído nesses espaços?

E aqui a avaliação precisa passar desde o eu produtor de conteúdo até o eu consumidor de conteúdo. Essa pergunta, aliás, se ramifica em outras:

Como vou me sentir se eu postar por um mês e não atingir o resultado esperado?

Como eu lido com postagens que demonstram o sucesso de outras pessoas?

Quanto tempo estou disposto a investir para ter sucesso nessa plataforma?

Estou disposto a adaptar a minha forma de produzir conteúdo para essa plataforma?

A ânsia por ser encontrado e aceito é, muitas vezes, mais prejudicial do que o medo de perder alguma novidade, porque ela nos faz querer ser visto em todos os lugares quando, no final, não somos vistos em lugar algum.

Filtre a forma como você vai lidar com as suas escolhas

Consciente de com o quanto de informação consegue lidar e em quais espaços prefere trabalhar, é hora de filtrar como você quer lidar com suas escolhas.

A internet está cheia de sistemas de recompensas, nos quais uma ação devolve o empenho depositado nela com curtidas, comentários, contato com as pessoas, visualizações e outras respostas positivas traduzidas em forma de dopamina. 

A dopamina é um neurotransmissor produzido naturalmente pelo nosso cérebro que dispara a sensação de prazer sempre que ingerimos uma comida gostosa, fazemos sexo ou temos interações sociais — e que torna as redes sociais e os celulares tão viciantes quanto a cocaína, apesar do estímulo momentâneo ser menor.

Como todo vício, à medida que vamos recebendo novas doses de dopamina, nós queremos que elas sejam cada vez maiores, mais imediatas e contínuas — e as notificações em nossos celulares são as armas secretas responsáveis por nos viciar nesses reforços positivos.

Assim, a próxima pergunta a se fazer é: quais notificações eu quero receber no meu celular?

A boa notícia é que existem inúmeras maneiras de desativar as notificações, seja de modo permanente ou por um determinado período. Você pode, por exemplo, programar o seu celular para entrar no modo “não perturbe” a partir de um determinado horário e favoritar alguns contatos para receber notificações apenas deles. Pode também desabilitar notificações de aplicativos específicos ou entrar nas configurações de cada aplicativo e escolher quais notificações quer receber.

A essa altura, você pode estar achando que isso é muito trabalhoso, mas confie: ter controle sobre quando e o que você quer ser notificado melhorará tanto a sua produtividade quanto a sua saúde mental. O mais importante é você ter consciência das suas ações e de como você investe o seu tempo.

Utilize seu tempo de forma inteligente

Nem sempre podemos escolher a forma como ganhamos o nosso pão, mas sempre podemos escolher a forma como utilizamos nosso tempo fora do trabalho formal. Vivemos dizendo que não temos tempo para nos dedicarmos aos nossos projetos, mas a verdade é que temos tempo de sobra — só o estamos utilizando da pior forma possível.

Redes sociais, streamings, sites de notícias efêmeras sobre a última besteira da vez; será que estamos consumindo esses conteúdos por que queremos ou por estarmos na eterna busca da recompensa fácil?

A próxima pergunta para se fazer, nesse contexto, é óbvia: em que estou investindo o meu tempo?

(Pode ir com calma aqui. Talvez você precise de uma nova pausa para refletir)

A resposta pode ser dolorida demais para você querer abri-la de uma só vez. Faça uma avaliação cautelosa, mas sem escrúpulos.

Talvez você descubra que investiu os últimos anos de sua vida em um trabalho que não era bem o que você queria. Talvez olhe as estatísticas de tempo de uso do seu celular e descubra que gasta quinze horas por semana em redes sociais. Talvez perceba que precisa reavaliar a forma como pensa o seu trabalho antes de seguir em frente com ele. Talvez veja que era mais simples do que imaginava abrir espaço para investir em um novo hábito, para voltar a estudar ou para começar um novo projeto.

Independente da sua descoberta, é importante não lamentar pelo tempo perdido. A sua autoavaliação é do presente em diante, é sobre como mudar, não para se arrepender. Aqui cabe aquele pensamento clichê: se eu começar um novo projeto agora, terei algo concreto daqui a X tempos.

Esqueça o que você perdeu; concentre-se naquilo que poderá ganhar.

Faça o que você quer, não o que te dará a melhor recompensa

De uma forma ou de outra, a internet nos viciou em dopamina com o seu sistema de recompensas. Uma vez dentro de alguma plataforma, queremos ser bem avaliados, receber elogios, ter uma enxurrada de curtidas e, se você for um produtor de conteúdo, ganhar algum dinheiro com isso.

A grande questão é que esse sistema é, no mínimo, insustentável. Para chamar toda essa atenção dentro das plataformas, como elas estão organizadas hoje, é preciso investir muito tempo e energia tentando e consumindo essas migalhas de dopamina. Por isso, mais uma vez, é preciso estar consciente disso antes de entrar no jogo.

Portanto, a última pergunta a se fazer é: estou preparado para seguir na direção que escolhi? Encare esse preparado no sentido mais literal possível: de ter preparo físico e mental para seguir em frente com a sua escolha.

Por exemplo, se você escolher excluir suas redes sociais, você estará preparado para deixar essas plataformas? Ou o contrário, se você ficar nas redes sociais, estará preparado para em alguns dias ver o sucesso das outras pessoas e sem se avaliar como um fracasso?

Retomando a pergunta do início, o que vale mais para você quando pensa em um novo projeto artístico: produzir o que deseja e esperar ser encontrado ou buscar o que as pessoas querem para então começar a produzir? 

Diante tudo o que falamos aqui, a resposta certa para essa pergunta é a resposta que se mostra certa para você. Mais importante do que a resposta em si é estar consciente das escolhas que você faz.


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